A difícil missão de formar atletas

Curso de Iniciação Esportiva e Valores Olímpicos (CIEVO), promovido pelo Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), do Comitê Olímpico do Brasil (COB) – Modalidade Natação Na foto, o atleta Douglas Felizardo de Andrade do Clube de Regadas do Flamengo durante exercício 3.8 Nado Crawl: saída de bloco e saída para o nado, exercício 2, na piscina do Centro de Treinamento Time Brasil , no Parque Aquático Maria Lenk, no dia21/07/2018
Curso de Iniciação Esportiva e Valores Olímpicos (CIEVO), promovido pelo Instituto Olímpico Brasileiro (IOB), do Comitê Olímpico do Brasil (COB) – Modalidade Natação Na foto, o atleta Douglas Felizardo de Andrade do Clube de Regadas do Flamengo durante exercício 3.8 Nado Crawl: saída de bloco e saída para o nado, exercício 2, na piscina do Centro de Treinamento Time Brasil , no Parque Aquático Maria Lenk, no dia21/07/2018

Algumas leituras e experiências que fiz recentemente me fizeram refletir ainda mais o quão difícil é essa missão de formar um atleta.

Não me refiro somente a dar treino. Isso é relativamente fácil.

Todos já devem ter ouvido falar que o técnico é um pouco técnico-pai-irmão-psicólogo-amigo-incentivador e tantas outras funções.

Mas saber lidar de uma maneira adequada com atletas com experiências e expectativas tão diferentes não é uma tarefa fácil.

E nesse conjunto temos as expectativas do atleta, do clube, do técnico, da família, dos amigos, do namorado (a), da escola….é uma lista que não tem fim.

Não é de se espantar que bons atletas fujam do esporte por não saberem lidar com isso tudo.

Mudanças com os jovens

E como se não bastasse o estresse natural do ambiente competitivo tem-se ainda todas as mudanças naturais que ocorrem com o jovem em desenvolvimento.

O objetivo aqui não é discutir se a competição esportiva para os jovens é saudável ou não. Afinal de contas na própria escola há competição – quem não quer tirar a melhor nota da turma?

Mas nem por isso os pais deixam os filhos sem estudar por causa de uma nota ruim! O mesmo sentido pode ser dado a intervenção familiar.

Se adequada, trará bons resultados. Se ausente ou excessiva, pode trazer resultados negativos.

O problema é que existe uma linha tênue entre o adequado e o inadequado. E convenhamos!

Tem pais, e até mesmo técnicos, que exageram. Mas eles agem assim com a melhor das intenções.

Alguns estudos

Alguns estudos tem se preocupado em saber como o jovem reage ao ambiente competitivo.

E a resposta para seu início e manutenção na prática esportiva invariavelmente é a mesma: sentir prazer e se divertir no que faz.

Mesmo entre os mais velhos esse é um pré-requisito.

É lógico que motivos ligados a aceitação social, pessoal, e financeiro. Mas isso é depois e sempre passam pelo “sentir prazer”.

Para que este prazer pela prática esportiva esteja presente costumam-se avaliar variáveis relacionadas as características da modalidade, do treinador, a própria percepção de competência pessoal, de apoio familiar, de estresse e ameaça.

Mas como se não bastasse toda esta complexidade, a percepção das competências competitivas pessoais e do próprio ambiente mudam de acordo com a idade.

Por isso é importante conhecermos as características do atleta que estamos treinando. Inicialmente eles querem apenas se superar.

Depois começam as comparações com os coletas e a necessidade de aceitação. Cada etapa irá requerer uma intervenção diferente.

O que a literatura indica é que quando a atividade esportiva (em seu sentido mais amplo) não reforça os sentimentos de competência pessoal e a motivação, podem surgir problemas e consequências negativas – como o abandono esportivo.

Para finalizar

Para finalizar a ideia deste pequeno artigo, cito o e-mail que recebi esta semana da Swimming Australia (30/11/2012).

Das oito notícias do e-mail três delas destacavam o have fun. Divirta-se! Uma delas chamava os nadadores de todas as idades, níveis e aspirações (dos nadadores aos surfistas) a aproveitarem o verão de uma forma segura e divertida!

A questão aqui não é imitar a metodologia dos australianos ou americanos. Precisamos achar a nossa.

A proposta Brasileira que respeite nossa cultura e incentive as pessoas a praticarem natação.

Mas independente de qualquer coisa, uma natação divertida e prazerosa. Poucos serão campeões olímpicos. Isso é fato.

Mas muitos podem passar pela boa experiência de treinar, competir, vencer, perder, se superar, fazer amigos, conhecer novos lugares e transferir essas experiências para o seu dia a dia na vida adulta.

E é nossa tarefa (treinadores, pais, amigos, dirigentes) encararmos essa, talvez, difícil missão de formar atletas.

Essa notícia foi publicada originalmente em 7 de dezembro de 2012. Em função de sua relevância foi atualizada em 23 de agosto de 2020.

Sugestão de leitura:

CRUZ, José Fernando S. Azevedo ; GOMES, António Rui, ed. lit.- “Psicologia aplicada ao desporto e à actividade física : teoria, investigação e intervenção : actas do Encontro Internacional…, 1, Braga, 1997”. Braga : APPORT – Associação dos Psicólogos Portugueses, 1997. ISBN 972-97562-0-1. p. 292-317.

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