ADAPTAÇÃO AO MEIO AQUÁTICO: algumas discussões que podem influenciar a sua prática (parte 1)

Frequentemente eu trago esse tipo de discussão aqui para vocês porque acredito muito na importância dessa fase da aprendizagem. Além disso, que podemos fazer melhor.

Acompanhe então essa discussão quer será dividida em quatro partes. Essa já é a Parte 1.

Como vocês sabe, a fase de Adaptação ao Meio Aquático (AMA) é considerada como a fase inicial de contato do indivíduo com a água (CANOSSA et al., 2007). Esse momento da aprendizagem também pode ser chamada de fase de adaptação ao meio líquido ou de familiarização (MORGADO et al., 2016).

Entre diversos outros pontos ela se justifica pelas diferenças de comportamento humano na terra e na água – como posicionamento vertical e horizontal, respiração nasal e bucal, por exemplo e, respectivamente, para fora e dentro da água (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006; MORGADO et al., 2016).

A AMA é comumente reconhecida como o pilar básico do processo de ensino-aprendizagem em natação (CANOSSA et al., 2007) e serve de base para a posterior aprendizagem de outras habilidades aquáticas mais complexas e especializadas (MORGADO et al., 2016).

Contudo, a AMA não deve ser oferecida aos nossos alunos segundo as necessidades únicas dos nados empregados em natação competitiva, devendo, pelo contrário, ser alicerçada e orientada pelos pressupostos de todos os esportes praticados na água e da futura diversidade de interesses e motivações dos praticantes (CANOSSA et al., 2007).

Assim, deve-se pensar uma AMA capaz de induzir a aprendizagem de conteúdos gerais (atividades não esportivas) e específicos (atividades esportivas) das atividades praticadas na água. Por ser fundamental, a AMA precisa de um conceito mais vasto e completo, não devendo ser vista apenas como uma simples fase inicial da aprendizagem dos nados, mas sim como a aprendizagem do total domínio do meio aquático (CANOSSA et al., 2007).

Aqui no meu site você encontra outros textos e vídeos sobre essa conceituação da AMA.

A prática variada de atividades durante a AMA revela vantagens ao nível da eficácia do processo de ensino-aprendizagem e ao nível do desempenho de uma nova versão do movimento aprendido (CANOSSA et al., 2007). Por isso, um programa de ensino do nadar para crianças deve ser entendido como mais do que o ensino dos nados competitivos, e sim como uma “educação física no meio líquido” (FREUDENHEIM, GAMA e CARRACEDO, 2003).

Outro conceito destaca que a AMA é um processo que induz o indivíduo a aceitar e a sentir-se bem no meio aquático, pressupondo o desenvolvimento de diferentes habilidades básicas. Na prática, procura promover um estado de prontidão, que se revela pela autonomia, confiança e satisfação do sujeito no meio aquático (MORGADO et al., 2016).

Percebam que esse último conceito extrapola a preocupação do ensino de conteúdos motores, assunto que também já discuti aqui no site.

A AMA geralmente é ensinada para crianças de 3 a 6 anos, pois nessa idade elas ainda não são capazes de aprender a nadar (os nados formais), uma vez que não possuem a compreensão e maturidade motora necessária (MORGADO et al., 2016). Apesar dessa sugestão de idade, devemos lembrar que qualquer indivíduo que não conheça o ambiente aquático, independentemente da sua idade, deveria passar pela AMA.

Além disso, eu tenho defendido em minhas aulas e cursos que a AMA seja algo muito mais abrangente e duradouro. Assim, mesmo que já esteja acontecendo o ensino dos nados formais, do polo aquático ou outro esporte aquático, conteúdos da AMA podem continuar sendo desenvolvidos.

Para isso, a responsabilidade do professor é organizar conteúdos e atividades de ensino que sejam mais adequadas para cada nível de aprendizagem – reservando aos mais novos as atividades e conteúdos mais simples; e ao mais velhos, aquelas mais complexas – próximas de uma situação real de exigência de domínio do corpo no ambiente aquático.

No Brasil, uma visão para o ensino da natação começou a se estabelecer em 1978, onde a publicação do professor David C. Machado (livro Metodologia da Natação) incluiu a etapa de adaptação ao meio aquático, até então ignorada na aprendizagem (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

A partir das discussões de Machado (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006) pode-se considerar que a adaptação do homem ao elemento água, deve englobar o domínio de todas as possibilidades de movimento no meio líquido, a fim de que o indivíduo possa desfrutar deste meio para seus interesses particulares, que podem estar no campo do lazer, da reabilitação, da saúde, da competição, da arte, entre outros.

Ou seja, existem outros resultados no domínio psicomotor do comportamento que também podem ser enfatizados no ensino da natação quando este tem por meta o domínio do meio líquido e não somente dos estilos de nado (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

Por que não, por exemplo, oportunizar a aprendizagem de outras atividades (não esportivas) que a criança venha a realizar no ambiente aquático e também a questão da prevenção de afogamento? Para que isso aconteça o professor precisa racionalizar e sistematizar o ensino da AMA.

A fragmentação dos movimentos dos nados tendo em vista sua execução, associada à busca do movimento tecnicamente perfeito por parte do professor, mesmo que o aluno tenha realizado anteriormente a etapa da AMA, não faz desta proposta (deste método de ensino) algo menos ignorante (comparativamente as características da Concepção Analítica de ensino da natação proposta no livro do O ensino da Natação dos autores Catteau e Garoff), pois continua considerando o aluno apenas um realizador de tarefas (FERNANDES e LOBO DA COSTA, 2006).

Acompanhe na próxima semana a Parte 2 desse texto.

4 comentários

  1. Excelente…Li sobre a adaptação ao meio aquático… Muitas informações importantes! Obrigada, professor Guilherme!

  2. Maria Elieigila Martins Santos

    Material muito importante.

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