(Re)pensando o ensino dos esportes aquáticos

O ensino dos esportes aquáticos

(Re)pensando o ensino dos esportes aquáticos

E seguimos (re)pensando, mais uma vez, e mais uma vez, o ensino dos esportes aquáticos.

O ensino dos esportes/atividades aquáticas tem sido tradicionalmente realizado a partir de uma abordagem monodisciplinar. O foco e as reflexões partem geralmente das necessidades de ensino da natação (entendida nesse caso como modalidade esportiva e competitiva).

Tudo por ela e para ela. Entendo que a natação é o esporte mais popular entre os outros, mas “para cada sapato velho, sempre existe um pé descalço”. Ou seja, tem gente que poderia amar o polo aquático, apesar de só gostar da natação.

Entretanto, se priva essa situação por falta de oportunidade. E não me refiro a falta de oportunidade por problemas financeiros do praticante. Estou pensando mesmo entre aqueles que podem pagar e já fazem natação.

 

Quem faz natação, só faz natação

Assim, mesmo quando o professor tenta uma iniciativa de “pegar emprestado” alguns conteúdos dos outros esportes aquáticos, o faz pensando em melhorar a aprendizagem da natação. Além disso, com essa finalidade, geralmente são utilizadas atividades recreativas.

É lógico que a atividade lúdica e recreativa pode levar a aprendizagem. Mas se entende que esse processo deveria ser mais intencional e formal – mesmo que se utilizem métodos lúdicos.

O professor tem que saber o que ele quer ensinar.

De qualquer maneira, essa iniciativa de trazer para o ensino da natação conteúdos dos outros esportes aquáticos não é ruim (e muito menos inovadora) – muito pelo contrário. Já é mais do que geralmente se faz. Mas podemos ir além.

Mas o problema persiste

Entretanto, não vemos um processo de planejamento e de sistematização do ensino de forma multidisciplinar ou transdisciplinar. Essa iniciativa seria interessante principalmente para as crianças e jovens em formação, pelo menos por três motivos:

  • Oportunidade de experiência motora, cognitiva e de comportamento mais abrangente no ambiente aquático;
  • Ampliação da possibilidade de conteúdos de ensino, ajudando a tornar a aula mais dinâmica, variada e interessante; e
  • Conhecimento básico dos outros esportes aquáticos, permitindo uma escolha futura, por afinidade, para aperfeiçoamento.

Entretanto, como sabem, infelizmente não encontramos no Brasil clubes, academias ou escolas de natação com essa proposta. Eu não conheço.

Mesmo nos locais onde se oferece o ensino do polo aquático, dos saltos ornamentais ou do nado artístico esse processo é independente. A proposta de ensino geral não existe.

As modalidades não conversam umas com as outras! Na verdade, ainda concorrem entre si na busca de praticantes/atletas. E a natação geralmente vence – mas por questões de reconhecimento social.

Mas não precisava ser assim

Mesmo que o clube seja focado no esporte competitivo e acredite que o início da preparação deva ser cedo (apesar da literatura contestar) a iniciação poderia ser pensada de forma mais global.

Defendo que esses conteúdos dos demais esportes aquáticos competitivos deveriam ser, inclusive, redimensionados como conteúdos da Adaptação ao Meio Aquático (AMA). Isso é importante.

Eles precisam sofrer esse redimensionamento porque a AMA tem seus objetivos próprios e que estão distantes da formação do atleta.

Já está equivocado o professor que durante a AMA se preocupa em ensinar os conteúdos específico da natação formal. Ampliar essa realidade, ruim, trazendo características dos outros esportes aquáticos formais só aumentaria o problema.

De qualquer maneira, na pior das hipóteses, essa proposta de AMA oportunizaria uma vivência e conhecimento maior das crianças pelos diversos esportes aquáticos.

Assim, mesmo pensando exclusivamente no esporte competitivo, seria uma forma de fazer a criança conhecê-los. Como consequência, aumentaria a sua possibilidade de escolhas no esporte competitivo.

Eu só tenho condições de gostar daquilo que eu já experimentei. E como eu disse no início, “para cada sapato velho, sempre existe um pé descalço”.

Sugestão de leitura

CANOSSA, S.; FERNANDES, R. J.; CARMO, C.; ANDRADE, A.; SOARES, S. M. Ensino multidisciplinar em natação: reflexão metodológica e proposta de lista de verificação. Motricidade, Ribeira de Pena, v. 3, n. 4, p. 82-99,  2007.

FERNANDES, J. R. P.; LOBO DA COSTA, P. H. Pedagogia da natação: um mergulho para além dos quatro estilos. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, v. 20, n. 1, p. 5-14,  2006.

LLOYD, R. S.; CRONIN, J. B.; FAIGENBAUM, A. D.; HAFF, G. G.; HOWARD, R.; KRAEMER, W. J.; MICHELI, L. J.; MYER, G. D.; OLIVER, J. L. National Strength and Conditioning Association position statement on long-term athletic development. The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 30, n. 6, p. 1491-1509,  2016.

LLOYD, R. S.; OLIVER, J. L.; FAIGENBAUM, A. D.; HOWARD, R.; CROIX, M. B. D. S.; WILLIAMS, C. A.; BEST, T. M.; ALVAR, B. A.; MICHELI, L. J.; THOMAS, D. P. Long-term athletic development – part 1: a pathway for all youth. The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 29, n. 5, p. 1439-1450,  2015a.

LLOYD, R. S.; OLIVER, J. L.; FAIGENBAUM, A. D.; HOWARD, R.; CROIX, M. B. D. S.; WILLIAMS, C. A.; BEST, T. M.; ALVAR, B. A.; MICHELI, L. J.; THOMAS, D. P. Long-term athletic development – part 2: barriers to success and potential solutions. The Journal of Strength & Conditioning Research, v. 29, n. 5, p. 1451-1464,  2015b.

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